quarta-feira, 22 de julho de 2009

IMPLACÁVEL TEMPO






aqui me tens diz o tempo
implacável mortal e nu
o ritmo é tudo

a inquieta borboleta
aprisionada
busca forças para esvoaçar

e o tempo atento
fustiga a vida
para acabar onde começou


Rio, julho de 2009

terça-feira, 21 de julho de 2009

POESIA TRANSFORMADORA DO MUNDO

[de novo, a propósito de Nydia Bonetti em seu Blog - http://nydiabonetti.blogspot.com/]


o mundo meu
não é outro
senão eu
se a poesia transforma
a mim reforma
e toma forma
nos olhos que tenho pra ver
nas linhas que devo ler
do mundo que não é meu


da "Lírica" "[...]um gosto que hoje se alcança,/amanhã já o não vejo;/assi nos traz a mudança/de esperança em esperança, e de desejo em desejo [...]"
"[...] em vida tão escassa/que esperança será forte?/Fraqueza da humana sorte, que, quanto da vida passa/está receitando a morte!"

em continuação já o dizia

"Sôbolos rios que vão/por Babilônia, me achei, onde sentado chorei/as lembranças de Sião/e quanto nela passei./[ ...]"
"Ali, lembranças contentes/ n'alma se representaram,/e minhas cousas ausentes/se fizeram tão presentes/como se nunca passaram.//

Nada se copia, tudo se recria...

Rio, julho de 2009

AINDA O ABISMO

[para Nydia Bonetti]



asas
que falar desse olhar
por sobre a pedra
luz
onde o ar se rarefaz


música


dê meu nome ao vento vivo
que uiva
onde o abismo se desfaz...

21 de Julho de 2009



O MEU ABISMO





[além do real é consciência]

à beira do abismo não o alcanço
fica atrás do vento
profundo na pupila

um grito
eco

desço a pedra em nua solidão
peço tempo
Deus vacila

a luz hesita
vejo outros planos

num bater de asas
a pedra exasperada
é torre de loucura
o tempo transtornado

todas as palavras falam desse abismo
estacionadas no ar

Londres, maio de 2008

segunda-feira, 20 de julho de 2009

CREDO




creio Senhor em Tua Vontade
sou dela eco sustenido
e no Teu Amor sou sustentado
minha oração é feita de silêncio
sussurra por ela a natureza
campos e um céu pleno de estrelas

perdão Senhor de minha fraqueza
de não poder tirar os olhos
do pequeno que me vejo
no descuidado sentido do universo
incapaz do Teu mistério


Rio/Roma, 2 de abril de 2005/21 de julho de 2009

VISITA DA VELHA SENHORA






São Tomé sempre quis ver
o simples ver para crer
outro dia quase vi
na pena que muito senti

para quem vida não tem
morte certamente não vem
no certo do que tem que ser

ontem ou ante-ontem
prometeu-me vir a malvada
apareceu em seguida frustrada
por ter sido mal amada
e começou a mentir

disse que era encantada
que me pouparia no fim
só não disse a danada
que ainda me quer só a mim

virá perversa e sutil
entrará na casa pequena
pela fresta da janela
atraente loura ou morena
e não será outra mas ela
entre tantas outras mil

a promessa doutro dia
trouxe muito desengano
no que virei a perder
neste jardim já deserto
de certezas cheio de enganos
onde é fácil prometer
de tristezas alegria

gosto de tudo que tenho
não gostei do que não tinha
da loura que prometia
à morena que mentia

impaciente acordei
do sono do sonho da rinha
onde todo o tempo briguei
com quem deixou de cumprir
o que estaria por vir
na lembrança ou esperança
de água doce e bonança
da vida que tenho remida
nas penas de meu querer
que claro não quero perder

Rio, julho de 2009





domingo, 19 de julho de 2009

POEIRA DE ESTRADA







foi poeira o pó da estrada
pó que voltará a ser pó
sujeito à brisa do tempo
ou mero desejo das fadas

aqui à beira do verso
procuro encontrar o poema
que nada sôe e tudo diga
como desejos de amigo

que tanto mistério não há
nas manhãs de pouco sol
ou noites de tanta luz

no lapso de meu tempo cantei
tanto amei de tanto amar
cheguei não vim pra ficar

Rio, julho de 2009