segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

OURO E PRATA



brilha o poente no dourado sobre os céus
um ritual de encanto e sedução
como janelas de vida em projeção

o movimento pendular do astro rei
são o abraço do astral a relembrar
cem anos ainda por viver

à noite e tranquila madrugada
sussuram as ondas do mar
o seu canto repetido de amor

nas noites de luar beija a lua
em prata fresca a brisa de amar


Rio, fevereiro de 2014.


ADIANTE!



tudo que responde é vida
o desejo de estar vivo
aquela sensação de que há muito diante de mim
adiante de mim

quem me dera saber mais do pressentimento
medido e escalado 
como retomo o sentimento
sentido e lembrado

não
não sei se a imaginação tarde da noite me acorda
ou me engana
não estou seguro de que o sono interrompido
canta para me acompanhar 
como o sopro do vento
à beira da estrada tange a indiferença
ou o desejo de ser

sou devorado pelo pensamento
que me varre certezas
e derrota o que já foi
para indagar o que me vem

há diante de mim vida
adiante
isso me importa

Rio, fevereiro de 2014.




domingo, 9 de fevereiro de 2014

JANELAS DA VIDA



janelas abertas para a vida
diálogos de alegria com o mundo circundante
é madrugada e o sono infante
inspira sonhos claros
assegurado o céu tranquilo
de azul intenso entre nuvens brancas

o sonho mistério traz visões tão simples
desperta-me na noite escura
para ajudar a compreender a vida enorme
que a psicologia interpreta sem razão

o vento sopra cenários de dentro para fora
e sinto escrevendo um poema
a lembrança que é memória e diz que há tudo ainda
por viver embora

janelas abertas para a vida é a sensação que se esconde
em meio ao esquecimento de viver 
frágil ainda neste estágio

o sono o sonho dialogam comigo
o som macio da maré em frente que se desdobra calma
é madrugada de verão


Rio, fevereiro de 2014.



sábado, 8 de fevereiro de 2014

O ENCANTO



amo a vida 
cruzei-a sem pensar no tempo
como talvez faça a gaivota flutuante 
o seu branco imaculado dançarino sobre azuis
assim no espaço abstrato 

dialogo com a memória
ou lembranças fugidias talvez

vivi porque nasci
nem soube como me foi dado o prêmio de nascer
onde e como
quanto pressentimento
quanta voz cantei
para tentar ouvir o mundo
mirando-o no vôo solitário

como é sonhar 
sempre indaguei em pleno sonho
dos momentos entre a aurora e o poente
como é sonhar o sonho da noite escura 
perguntei-me
no uso pleno da razão

tenho respostas sensíveis que não pretendo desvendar
o sonho de meu fado
e o destino de quem me suceder

tenho indagações nem sempre inquietas sobre quem sou
ou me tornei

amei intensamente meus amores
quem me acompanhou
quem me acompanha
quem de mim resulta ou resultou
quem pude formar segundo a percepção
da experiência vivida
da emoção pressentida
um resumo de existir 

como um relâmpago tudo se esclarece por um instante
no escuro do entendimento
quão sem sentido é o espaço e qualquer medida do tempo
perdidos entre estrelas e planetas
a colidir por vezes com o mal
tentando convergir com todo bem
difícil a opção
certeira a pretensão

tenho a saudade de tudo
onde se encontram as almas
uma certa inveja da esperança
que nem é nem dura
mas persiste

vejo à distância a revoada do branco
que se confunde no horizonte 
na estreita fímbria entre o céu
e o mar presente

esse é o encanto

Rio, fevereiro de 2014.


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

RIO


o seco azul do céu iluminando o mar
amanheceu gaivotas (e barcos pescadores)
cruzei a linha do horizonte 
um olhar de maravilha
e o sol na tangente incandescente

o dançarino traçado no ar é sorriso
esvoaçante em asas todo abertas
mergulhos 
como raios brancos sem trovões

são vida os movimentos
o sol em corrida brilhante
a linha do horizonte curva além das ilhas
a África sonhada

o planeta em plena solidão no trajeto sideral
meus olhos
minha alma e coração
eternidade

tudo é Rio


Rio de Janeiro, fevereiro de 2014.



  

O SEM SENTIDO



ah quanto sem sentido há no que escrevo
por que me parece tão sem sentido
se a linguagem é comum a leitor e autor
indago
não sem angústia busco um tema que me torne claro
refaça meus pensamentos
re-utilize minhas palavras
reforme o que nos meus termos não consegui

não digo nada nada tenho a dizer
que sentimentos (se os há)
que pensamentos 
se o autor é distinto do leitor
como transitar de uma a outra alma sem falsificar

um dia desaparecerei
a odiosa dama convidar-me-á para seu festim
e não terei escolha
tudo que escrevi não terá destino
repousará nos séculos enquanto tinta e papel resistirem ao mofo

no mais distante dos mundos
ausente fisicamente
zelarei apenas pela minha vaidade em vida
para que não deixe traços

enquanto estou vivo 
estou vivo
continuarei a não entender por que
mas não perguntarei
e escreverei

Rio, fevereiro de 2014.


quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Bello come pochi [uma transcrição]


Uma transcrição de um poema de Norman MacCaig:


 "Penso a te nei vari modi in cui la pioggia scende. (sempre di più, com l'étà, odio le metafore - la loro rigidità la loro inadequatezza). A volte questi pensieri sono pioggerellina, appena percettibile, niente di più leggero: a volte uno scroscio battente, uma solerte pulizia primaverile della mente: a volte, un terribile temporale. Sempre di più, con l'étà, odio le metafore, amo la leggerezza, temo i temporali." 

Rio, fevereiro de 2014.

Norman MacCaig foi um grande poeta, poeta e professor,
 nasceu na Escócia em 1910 e faleceu em 1996.