sexta-feira, 23 de maio de 2008

POESIA



também a poesia é filha do mistério
vive de mantras
em que metáfora ritmo ou rima
são orações de um culto pagão
onde a beleza é necessidade
de que o fundamento é o mundo.

Não se espantem com meus conceitos
como o diabo de Pessoa vivo de símbolos
nada devo à ciência nem articulo razões
empenho a alma e talvez o coração
como qualquer poeta que sente com o pensamento
mas não crio
os seres [vários] que trago comigo.


Furto-me ao convencional aristotélico
perco-me na eloquência dos silêncios
que me povoam o pensamento
fustigam-me o sentimento
com aspirações e desejos
fadados a explodir como poema.

Assim o poeta é um velho adolescente
vive de lembranças às vezes tristes
sobre o anoitecer
mas agudiza a memória nas tardes
de muitos sóis
a preceder a suavidade das noites

lugar de todos os sonhos
contraditoriamente
a lhe trazer alegria.

Ora, não sou a verdade
sou o poeta
na tentativa de ver sempre claro
os contrastes [que] são o sal da vida
o amanhecer [que] é cada dia
e cada dia é poesia.


Londres, maio de 2008

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