domingo, 8 de janeiro de 2012

FORMA





procuro a forma que não encontro
abro janelas
fecho portas
passam sombras
imateriais como o sonho
cheias de medo
a recolher-se no claro
por sob seres e coisas inteiros
que vejo normais


ouço a música do vento
soprando por sobre a relva 
ouço-a sem nem mesmo pensar
na consciência do olhar
que derruba mitos
e sobrevive ao ruído
redondo
no ritual de rodar


um ralo sentido começa a esculpir
fendas de puro ouro 
como castiçais
queimando jogos de azar
e da janela assomo 
para de novo a fechar
há um sono sem sonhos no imenso pesar
assim como choro
por nada encontrar


sussurram-me verbos
palavras perdidas
entre a terra e o céu
no temporal que é outro
e foi este amanhã
no sol que anuncia nuvens pesadas
e a ressaca no mar


vejo casas ruas e praias
gente entre mim e o sonho
fantasia sob a chuva que cai
vejo e não ouço
esse gosto se disser mei amargo
de tentar encontrar


talvez n'outro mundo
de fé
ainda veja o que suponho existir
pois nele toco um murmúrio
que ainda no transe
me remete ao passado
e me faz escutar
o que as coisas e seres visíveis e claras
nunca deixam sua sombra criar


Rio, janeiro de 2012.




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