sei que virás traiçoeira
alheia impessoal
em meio à bruma
cinza e soturna
não me causas náuseas
tudo será natural e calmo
no caminhar que me reservas
à terra de ninguém
tudo sabes do meu fado
mas não perguntarei
disciplinado
seguirei
Rio, julho de 2009
Gostaria de ter esta serenidade... Bonito, Flávio. Abçs.
ResponderExcluirAinda há muito para escrever, muitas letras ainda esperam pelo valor da sua sensibilidade!!!
ResponderExcluirSobre a Morte - cinco passos, cinco meditações
ResponderExcluir1.
Singular
(sol entre sombras quedas),
ela enfim se apresenta
prometendo descanso
e um outro tipo de riqueza.
2.
Seu rosto não se vê,
seu corpo não se define.
É só a nós mesmos
que enxergamos nesta hora
(como moça que se nota
num relance de vitrine).
3.
Como se convencer
da necessidade da partida,
se falta impulso e mapa?
se nos pés (frágeis e incertos)
não cabe sequer uma sandália?
se no peito do capitão
só há a mancha da medalha?
4.
Chega o inevitável batel
(todo ouro e brilho),
suas velas abertas como garças,
sua gávea roçando de leve o infinito.
Eis que o não-saber
se torna todo sentir,
e o que era só certeza
se revela sem sentido.
5.
A viagem assim começa:
uma nuvem
serve de mar,
o vento vem
das asas dos passarinhos,
e o tempo vai tecendo um trilho
(feito de açúcar, veludo e vinho).
Esquecer
quem parte nesse navio
é tão improvável
quanto se perder desse caminho.
(por Filipe Couto)
Meu querido, coisa boa ler seus versos!
Finalmente encontrei seu espaço!
Um grande abraço!
Filipe,
ResponderExcluirEncontrei finalmente o poeta no homem de espírito que você é, Filipe. Que prazer na descoberta. Inclui seu Blog no meu, para acompanhamento de sua criação.
Para quem leia meu blog, transcrevo nesses comentários um poema seu, belíssimo ao tratar do tempo:
Sobre o Tempo – meditação em três poemas
1.
Mesmo que muito eu me persiga,
creio que nunca me alcanço:
tenho horas de muita pressa,
quando tempo é de descanso;
enquanto o passado me carrega,
o futuro já me está fitando.
2.
Foi o próprio tempo (esse mestre impreciso)
que fez de mim esse todo inconstante,
com seu baile indeciso entre ir e vir
(ora para trás, ora para diante),
às vezes combinando
tudo que ainda não foi
com tudo que já foi antes,
sempre mudando, sempre ficando,
sempre dançando, dançando, dançando...
3.
Por isso é preciso tornar-se
inquilino do instante
(passear aquém ou além do destino,
mas viver de verdade no limiar do durante),
dançar com o rosto colado ao tempo,
e fazer de si seu mais terno amante.
Porque talvez
só realmente se alcance
aquele que de si mesmo
nunca se faz distante.
(por Filipe Couto)