terça-feira, 28 de setembro de 2010

INDAGAÇÃO






um dia entrego o resto do que fui à terra
para não mais pensar na angústia que trago desde que nasci
e saberei então que nada mais sou do que parte do universo
em que me perdi

fosse eu uma pedra não teria a consciência do significado nenhum do quanto fui
seria pedra uma entre tantas na poeira cósmica em torno de um dos tantos sóis
e jamais questionaria o tempo a conduzir-me a vida

nem o tempo nem a pedra mais seriam do que aquilo que são
criaturas do homem a justificar o sopro que os tornou pensantes
a indagar de tudo origem e fim
como se fim houvesse
no que origem não tem senão no movimento cósmico
incessante em seu esforço de organizar o caos

entrego-me a palavras com algum nexo
mas não encontro a razão
de me sentir na solidão em que estou
quando ninguém me responde nem a pedra
o que tenha sido minha humana condição

Rio, setembro de 2010






Um comentário:

  1. Que coisa, Flávio... Postamos praticamente ao mesmo tempo, nossas indagações tão parecidas. Que belo poema. Abraço!

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