segunda-feira, 8 de agosto de 2011

DA COLINA AO VALE







uma vida não vale um dia
nem um dia é suficiente
para refletir a vida


da planície ao cume foi um lance
mantendo-me a prumo
enquanto o ar já rarefeito
tomava-me o hálito
como um punhal


ao longe árvores pré-anunciavam a floresta
e mais além talvez o horizonte
de onde jamais me aproximei


deixei atrás a sombra
e retomei-me o corpo
e à cal calei a trilha
para não voltar


passei a floresta em meio a cardos
e plantas tantas
insisti apaixonado
em chegar do outro lado


a palavra veio depois ainda úmida
seguiu-me calada todo o tempo
para vingar-me ao fim
do que não fui 
do que não fiz


nem mágoa mas lembrança
doce mel de meu passado
lembrança nunca mágoa
nem mais nem menos 
memória


o que ainda tenho é tudo
não o que sobrou
mas o que amealhei
carinhosamente


a nova realidade é serena
fez-me querer tudo que tenho
e descobrir um mundo novo
que não é colina é vale
onde corre o rio feliz de minha vida


a farsa, diz o poeta, essa continua [1]




Rio, agosto de 2011





[1] Eugénio de Andrade

Nenhum comentário:

Postar um comentário