sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O DISCURSO DE MEUS ANOS


Luis de Camões 
[entre aspas, trechos do soneto 108 da Lírica]


"errei todo o discurso de meus anos"
ai de mim neste fim tão combalido
não me direi apenas que errei
serei mais um de enganos cometidos
morrer sem apelo só sofrido


tu não me vês nem eu te vejo
mas sem pensar apura-me o desejo
penoso devagar fundo esperançoso
de amar esse amor suspiroso
de "erros meus, má fortuna, amor ardente"


por poesia mais que eu fizesse
sem futuro não sinto nem mais quero
em meus cantos revelar a minha pena
"tudo passei; mas tenho tão presente"
o grande amor que vivi tão docemente


e mais erro quanto mais escrevo
não mais farei o que nem sei
se verdade foi ou mentiroso
o amor ou minha dor
de que "não vi senão breves enganos"
vem amor vai amar vem
a ansiedade repetida
ai de mim 
"errei todo o discurso de meus anos"... 


Rio, fevereiro de 2012.








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