sábado, 12 de dezembro de 2009

ENCANTO







gastamos tudo gastamos as palavras
gastamos até mesmo o segredo
do que poupamos
mas não me esqueço de ouvir
o som do mistério
que nos aproximou
porque a lembrança é forma consciente
de reviver

conto-me passagens das horas tantas
azuis como o mar grego
verdes como teu olhar

de vez em quando um verso quer revelar
o que jamais disse
mas ponho-me a voar
sobre o que não mudou
e o desejo já não dói
porque permaneceu

se tu soubesses como amo as palavras que não digo
o que nada é capaz de dizer
de meus pensamentos vagos na imensidão do passado
se eu pudesse reproduzir o retrato que trago na moldura vazia
de minha vida inteira
talvez eu falasse de alegria

foi possível viver sem morrer
o sentimento denso
que meus olhos vêem
mas não revelam
no inútil esforço de lembrar
o que não foi
porque não me soube dar

olha - serei eu feliz em dizer? -
ainda sou o mesmo homem que sucumbiu
aos teus encantos que deixei levar o vento...


Rio, dezembro de 2009




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