sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

FOI OUTRO DIA



outro dia apenas dias poucos passados
ouvi quase em segredo 
tua ansiedade


tu chamastes o desconhecido para nada
para o fortuito de um encontro sem alma


ouvi tua chamada sutil
desencontrada
quase infantil
para um nada que se perderia no tempo
de teu pensamento sem memória
e o corpo frio


pouco tempo faz daquele momento
que tudo transformou


mas sou eu a lembrar aquele átimo
e dele construir o sonho
basta fechar os olhos


Rio, fevereiro de 2012.








OUTONO INVERNO



dias de lembrança são o sonho retomado
um retorno ao passado
alento para um intemporal futuro


esse vale da memória
acelera o passo na escalada
da colina que se depara
esperamos
inevitável e suave


embora o outono pareça decadência
nele aprendemos a preparar o inverno  


Rio, janeiro de 2012.





quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

ENTRE A MANHÃ E O POENTE



para chegar ao futuro
o passado tem de passar
enquanto teimosa  a lembrança 
quer-nos fazer recuar


deixa deixa o passado
e tudo que nele condena
escolhe o bem
que cuidadosamente viveste
e o aproxima de ti


vivas inteiro o que és
entre a manhã que promete
e o poente que te faz descansar
trabalha de dia ama a noite
se te queres entender e ser claro


o mal que passou são amarras
que não te deixam avançar
desata todo os nós
vive teu sonho
constrói a esperança
e a manhã alegre de orvalho 
pura te saudará




Rio, fevereiro de 2012.




O AMOR NO RIO



caminho pela noite 
orla quase molhada pela maresia salgada 
à beira d'água
onde o mar se espraia a teus pés amado
Rio de sonhos
e de todos os amores


caminho passos lentos
alegre e triste no pensar a saudade  
do que não tenho
no coração que não consigo conquistar


distante longe um longe perto
de mim se mantém distante
hesitante
de ser meu teimosamente
no desejar-me
na decisão de viver sempre em mim  


a luz dos olhos de quem ama
olha-me e não vê
olha e recua ao avançar
e quando cruza seu olhar
ao olhar dos olhos meus
penso me amar


sei amor que vives nas praias do Rio
e insiste em se mostrar
sei que existes
vem a mim
para que eu deixe de ser triste



Rio, janeiro de 2012





SEGURA INSEGURANÇA



...por onde inseguro inseguro passe
como o louco sem loucura de Pessoa
serei feliz 
se puder entre o céu e a terra dessa história   
comum sem tédio ou alegria
sobreviver seguro de um só gesto
um só que justifique haver vivido


a frase que a voz inteligente brada
quebra a lembrança da amargura
de não haver sentido em noite escura 
o quanto a vida é vida para ser amada


..."não deixarei você por inseguro
será você a deixar a insegurança"...


dizia a amante em seu lugar segura
no drama entre loucos sem loucura
para insistir no tema da esperança


não fecharei a história se desperto
entender loucura e insegurança
para deportado em vida
retomar ainda o amor gerando afeto


Rio, janeiro de 2012.






segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

SAUDADE [de novo]



uma saudade abstrata toma conta de mim
uma ausência como o vazio sideral
sem gravidade que atraia
sem mesmo ar pra respirar


aqui da janela de casa
ouço o mar
ondas se derramam na areia
e se recolhem pra trás


abstraio-me


longe do mundo desejando vida
não te podendo encontrar


Rio, janeiro de 2012.





domingo, 29 de janeiro de 2012

REVIRAVOLTA





estar só me acalma
mas sou feito pra a vida
muita estrada me fascina


a liberdade do mar
dos roteiros que não há
nem o horizonte me obriga
nem céu tem tábuas da lei


escolho o amigo
afasto quem não me quer 
uma emoção diferente
é sentir falta do ausente


pobre rico remediado
nada importa mas o humano
o pensamento que vale
o sentimento que traz


gosto disso no boteco
em sua desordem aparente
deixando o tempo passar
e a conversa encantar


futebol no Engenhão
na grama ou campo sintético
é seguramente paixão
em busca do que nunca fui


a praia de ninguém
derrama-se para ensinar
democraticamente
o que se aprende em viver

 essa que me conduz
à liberdade e caminhos
é "música do povo" [1]
que me domina e seduz
                                                                                                      
trezentos e sessenta graus
uma volta completa
para recomeçar
o que atrás eu perdi


é emoção diferente
não me perguntem como ou porque
tendo o banquete nas mãos
escolhi arroz farofa e feijão

na terra o rio que passa
faz seu caminho pro mar
conhece ritmado e sereno 
o caminho certo a tomar



  assim navega meu barco
                                                                                                        meus versos são meu roteiro
                                                                                                        sonho com a eternidade
                                                                                                        tempo que não terei





Rio, janeiro de 2012.

[1] Fernando Pessoa